O Sistema CAM

Roberto G. Radaelli
Roberto G. Radaelli

Por Roberto G. Radaelli

biomecanica@professor.sp.gov.br

Introdução

Trata-se de um sistema que varia a resistência oferecida pelos equipamentos de musculação, de acordo com a capacidade de produção de força dos músculos envolvidos nos exercícios.
O Sistema CAM, foi desenvolvido na década de 70, nos Estados Unidos, por Arthur Jones, após ter observado que os músculos esqueléticos variam sua capacidade de produzir força dentro dos seus respectivos arcos articulares.

Física do Sistema Muscular (músculos, ossos): Arthur Jones e sua equipe, primeiro precisaram definir exatamente, as curvas de potência de todos os grupos musculares, ou seja, precisaram definir onde (em que ângulo) cada músculo do esqueleto humano (relacionados ao movimento) aumentava e diminuía sua capacidade de produzir força dentro de seus respectivos arcos articulares.

Física: O segundo desafio envolvia basicamente a Física, onde, através de alavancas e polias, ele precisou calcular com precisão “como?”, ele conseguiria variar corretamente a resistência oferecida aos músculos, para igualar o braço de momento da resistência (dos equipamentos) ao braço de momento de força (dos músculos).

“Melhor que forçar o homem a se adaptar à máquina, devemos fazer com que a máquina se adapte ao homem”.

“Para facilitar a participação (Ativação) muscular, você deve variar a resistência.”
Gideon B. Ariel (PHD)
“sobre o sistema CAM”

Discussão

Gideon B. Ariel (PHD) afirma que em 1972 introduziu este sistema. Sabemos que, mesmo tendo ele algumas opiniões que divergiam das do Sr. Jones, ele desenvolveu alguns equipamentos para Arthur Jones.
Grande parte da comunidade científica internacional considera Arthur Jones (1926-2007), fundador das empresas Nautilus e MED-X, como o “pai” do sistema CAM, criando esse sistema no inicio da década de 70.

Arthur Jones em uma das primeiras linhas Nautilus.

Um pouco de história e curiosidades sobre a evolução da biomecânica mundial:

Das empresas internacionais, a pioneira no Sistema CAM é sem dúvida a Nautilus. Em 1986 Arthur Jones vendeu a Nautilus e fundou a MED-X.
Um dos maiores designers da atualidade em desenvolvimento de equipamentos contra resistência (que tem total domínio sobre a tecnologia CAM), é o engenheiro mecânico Greg Highsmith, formado pela Iowa State University onde cursou de 1979 a 1984.
Após se formar Highsmith trabalhou na Cybex de 1985 a 1996 como diretor de produção dos equipamentos de força. De agosto de 1996 a maio de 2007 o Sr. Highsmith trabalhou na empresa Life Fitness, como vice-presidente de educação e produção de equipamentos de força e de junho de 2007 até hoje (Jan./2009), trabalha em uma divisão da empresa Technogym nos EUA, como diretor de marketing de produtos.
A empresa Hammer Strength fundada por Gary Jones (filho de Arthur Jones) no início dos anos 80, inicialmente utilizava somente sistema de alavanca, que igualava a curva de resistência à curva de potência do grupo muscular envolvido no exercício; Nada mais do que o sistema CAM em equipamentos de alavancas.

Significado das letras (C.A.M.)

Por que o sistema que varia a resistência durante o executar dos exercícios foi denominado de CAM?
A análise a seguir não é proveniente de nenhuma pesquisa ou informação oficial por parte das empresas (Nautilus e MED-X). Trata-se somente de uma análise com base em estudos e pesquisas biomecânicas.
E mesmo que não estiver correta a seguinte análise, isso não anula o restante do presente estudo sobre equipamentos para treinamento resistido, pois cabe à empresa que lançou o sistema no mercado denominá-lo, e ao fim da análise ficará claro que faz sentido minha suspeita quanto ao significado dessas letras.
É simples. Nos exercícios resistidos nós temos de um lado os músculos e suas determinadas capacidades de resistência à tração, e de outro lado os equipamentos que são responsáveis por gerar a resistência a esses músculos. No ângulo em que o músculo tem uma maior capacidade de produzir força (suportar mais carga), também mencionamos que é onde esse músculo gerou um maior braço de momento de força. Desta forma os músculos estão relacionados com o termo “braço de momento de força” (maior ou menor, podendo vir a variar durante toda a amplitude articular, ou parte dela).
Já os equipamentos podem gerar dois tipos de resistência, levando em conta a variação da resistência: Resistência dinâmica constante, que não varia a resistência durante todo percurso de deslocamento, ou; Resistência dinâmica variada, que varia a resistência dependendo da capacidade dos músculos envolvidos no trabalho. No caso da resistência dos equipamentos o termo usado é, “braço de momento da resistência”. Quando a resistência gerada é menor, dizemos que o braço de momento da resistência naquele ângulo foi menor e quando a resistência foi maior dizemos que o braço de momento da resistência neste ângulo foi maior.
Neste sentido de análise, quando o sistema CAM iguala a curva de resistência (dos equipamentos) à curva de potência dos músculos envolvidos em cada exercício, na verdade está igualando, o braço de momento da resistência dos equipamentos ao braço de momento de força dos músculos.
Agora vejamos como faz sentido, usando a análise anterior nas letras;
Braço de momento em português significa Moment Arms em inglês. Quem lançou o sistema CAM no mercado usou a língua inglesa para isso, por tanto só conseguiremos achar um significado para as letras C. A. M. no idioma inglês.
O Sistema CAM converge (iguala) em um mesmo ângulo o braço de momento dos equipamentos (Braço de Momento da Resistência) e o braço de momento dos músculos (Braço de Momento de Força), igualando desta forma a resistência, a real capacidade de produção de força dos músculos. Ficando desta forma:

Convergent Arms Moment ou ainda:

Inglês

Convergent Arms Moment

Português

Braço de Momento Convergente

Conceitos de algumas empresas globais sobre o S. CAM

Technogym: A technogym chama as polias CAM de Physio Cammes e diz que as mesmas foram projetadas de modo a adaptar a carga de maneira fisiológica às variações de força ligadas à biomecânica articular.

Cybex: A empresa afirma que em seus equipamentos, o perfil da resistência em cada movimento tem sido projetado na máquina, assegurando que a resistência venha suprir como um espelho completamente a capacidade do corpo no percurso de deslocamento.

Nautilus: A Empresa afirma que em seus equipamentos a curva de resistência se iguala à curva de potência dos usuários para máximos resultados.

Opinião de um profissional renomado

Dr. José João Zanini Filho (Reportagem publicada na revista Muscle In Form Ano 6 número 30/02) – Referindo-se ao sistema CAM- ” A outra evolução identificada se refere aos sistemas operacionais das máquinas que passam a utilizar polias excêntricas, cientificamente projetadas para permitir a excelência do movimento, onde no executar dos exercícios, as resistências variam em conformidade com o arco articular, adaptando-se assim a carga às variações da curva de força, proporcionando uma prática segura do exercício e muito mais resultados práticos”.
O fato é que esse sistema, se bem elaborado, realmente iguala entre todos os ângulos de trabalho muscular, a quantidade de resistência oferecida pelos equipamentos à real capacidade de produção de força do grupo muscular envolvido no exercício.

Em minha opinião, com todo respeito, não se trata exatamente de polias excêntricas como sugere o Dr. Zanini, mais no caso de equipamentos com sistema de polias, pode-se usar simplesmente polias irregulares (não necessariamente excêntricas). Afirmo ainda que a resistência não precisa ser necessariamente variada com polias (ainda que é a melhor maneira de se variar a resistência), mas também podemos variar a resistência, com alavancas, ângulo de inserção dos cabos nos equipamentos, etc.
Porém o Dr. Zanini está correto ao afirmar que a carga (resistência) é adaptada às variações da curva de força.

Trocando em “miúdos”: Onde os músculos têm uma maior capacidade de suportar cargas, o equipamento com o CAM, (através de Polias ou alavancas, ou ângulo dos cabos) aumenta a resistência, e obviamente onde os músculos têm uma menor capacidade de suportar cargas o equipamento diminui a resistência.
Desta forma, o equipamento é que se adapta à mecânica humana.
Com um correto sistema CAM, o equipamento não permiti que os músculos trabalhem em limiares abaixo de sua real potencialidade, como ocorre com a resistência dinâmica constante.
O sistema atua também diminuindo a chance de lesões musculares, uma vez que, onde os músculos têm uma menor capacidade de produção de força o equipamento diminui a resistência, fazendo assim com que os músculos não ultrapassem sua capacidade de suportar carga e desta forma venham a sofrer alguma lesão por sobrecarga.
Isso costuma ocorrer quando a resistência utilizada é a dinâmica constante, uma vez que, como a resistência não varia de acordo com a capacidade de produção de força dos músculos, pode vir a ocorrer, que em determinados ângulos seja oferecida uma resistência maior onde os músculos não consigam suportar, facilitando desta forma a ocorrência de lesões musculares.

Conclusão

Concluo que um autêntico sistema CAM, aumenta a eficiência dos exercícios para qualquer tipo de objetivos,
hipertrofia, reabilitação ou condicionamento físico, diminuição de adiposidade, etc.
São equipamentos ideais para reabilitação, desde que seus sistemas de regular amplitude (ROM) estejam perfeitamente sincronizados com o CAM.

Referências Bibliográficas

AABERG, E. Bio-Mechanically Correct. Dallas: Realístic, 1996.

ARIEL, G. Variable Resistance vs. Standard Resistance Training, Scholastic Coach 46 (5), DEC: 1976, 68-69; 74.

CAMPOS, M. A. Biomecânica da Musculação – Rio de janeiro: Sprint, 2000.

CAMPOS, M. A. Exercícios Abdominais: Uma abordagem prática e científica – Rio de janeiro: Sprint, 2002.

CARPENTER, C. S. Biomecânica. Rio de Janeiro: Sprint, 2005.

MIRANDA, E. Bases de Anatomia e Cinesiologia. Rio de Janeiro: 6º edição: Sprint, 2006.

NAUTILUS’S CATALOGUE. Features. CAM-Tecnology. 15 pg. Switzerland, 2003.

OKUNO, E; FRATIN, L. Desvendando a física do corpo humano: Biomecânica. Barueri, SP: Manole, 2003.

WALLACE B, WINCHESTER J, MCGUIGAN M, (2006). Effects of elastic bands on force and power characteristics during the back squat exercise. Journal of strength and conditioning research, 20 (2): 268-272.

9 Comments

  1. João Carreira diz:

    Sou licenciado em Biomecânica, e tive o gosto de ler este artigo. Gostei de saber que existe pessoas com interesse na area, principalmente na area de desporto que é a minha preferida, tenho pena é de não existir ainda emprego para os licenciados como eu que sao licenciado em Biomecânica que pouca gente sabe que já existem.

    Cumprimentos
    João Carreira

  2. Roberto G. Radaelli diz:

    Caro João Carreira, obrigado por seu comentário.
    Concordo sobre a falta de emprego nesta área. No Brazil, mesmo havendo mais de duzentas empresas neste segmento, tive bastante trabalho para ingressar nesta área.

    Cumprimentos.
    Roberto G. Radaelli

  3. Não posso me poupar em elogiar artigo pela riqueza de informações, clareza de na linguagem e embasamento visível. Entrei no google ligeiramente descrente de poder encontrar material sobre assunto, muito menos neste nível de qualidade. Parabéns, Roberto. Ponho-me à disposição.

  4. Roberto G. Radaelli diz:

    Obrigado Gilson pelo seu comentário.

    O assunto em questão(sistema CAM)é bem complexo e por isso talvez, poucas pessoas conhecem. Realmente há pouca bibliografia que trata do assunto.Como percebi que você tem interesse, além das já citadas, deixo a você uma nova bibliografia que trata também deste assunto. No livro Bases Neuromecânicas da Cinesiologia de Roger M. Enoka 2º edicão (editora Manole), nas pags 194,195 e 299 entre outras, Dr. Enoka trata sobre curvas de resistência e outros tópicos bem dentro do assunto do artigo.
    Espero que aprecie.
    Roberto G. Radaelli

  5. Jeferson da Rocha diz:

    Olá Roberto;
    Sou estudante de Engenharia Mecânica e estou concluindo o curso no final deste ano.
    Gostaria de saber a autoria da frase que você colocou em seu artigo.
    “Melhor que forçar o homem a se adaptar à máquina, devemos fazer com que a máquina se adapte ao homem”.
    Vou colocar ela no meu Trabalho de Conclusão de Curso e gostaria de mencionar o autor.

    Grato
    Jeferson da Rocha.

  6. Roberto diz:

    Olá Jeferson, obrigado pelo comentário.

    A frase pertence ao Dr. Gideon Ariel, um pesquisador que durante muito tempo desenvolveu equipamentos para treinamento resistido, alguns inclusive para Arthur Jones.
    Abaixo um link onde, com certeza, poderá achar a frase no idioma original (inglês).
    Grande abraço e bom TCC!
    Estou a sua disposição

    http://www.arielnet.com/adi2001/adi/about/founder/

    Roberto G. Radaelli

  7. clayton diz:

    boa tarde.

    achei muito bom este assunto, e gostaria de algumas dicas para melhorar a simetria do meu corpo, por exemplo tenho um tricebis, maior q o outro e gostaria de iguala-los.

    podeira me ajudar?

    grato

    clayton

  8. Roberto G. Radaelli diz:

    Boa Tarde Clayton, obrigado pelo comentário e pela pergunta.

    Não sou exatamente especialista neste assunto, mas agradecido por você ter acessado este meu simples artigo no site do amigo Paulo Sena, passarei a você algumas informações.
    O que sempre passei aos meus alunos aqui no Brasil, é que uma diferença entre membros de 1 cm a 1,5 cm, 2,0 cm é normal e precisaria tomar cuidado para tentar igualar através de exercitar mais um lado do que o outro pois poderia desiquilibrar outros músculos que também participavam do movimento, então, você, vamos dizer assim, “arrumaria” o primeiro músculo que até então era diferente mas “desarrumaria” outros músculos até então eram iguais, entende.
    Porém como a diferença está no tríceps, e se você realmente for se sentir melhor igualando-os, eu começaria fazendo um trabalho no Cabo (polia superior) onde faria uma série (unilateral) a mais de início para o braço com menos desenvolvimento, sempre observando se está funcionando.Se perceber que não está funcionando, em vez de aumentar a série eu pensaria talvez em aumentar a carga para o “Triceps menor”, mas tudo bem devagar,observando sempre se está dando certo.
    Meus braços dão 1 cm de diferença entre eles e nunca realizei nenhum trabalho para igualá-los. Repare nos braços do atletas profissionais IFBB (Mr Olympia e outros), você notará que não são totalmente indênticos em muitos atletas.
    Em resumo, eu só faria algum trabalho para igualá-los se a diferença fosse muito grande.
    Espero ter ajudado.
    Roberto G. Radaelli

  9. Paulo Sena diz:

    Trabalhe com barras. Assim, o peso em que vai pegar, será aquele que o braço mais fraco consegue movimentar. O braço forte não irá receber grande estímulo e após alguns meses estarão equilibrados.
    Recomendo barras porque assim notará melhor o desequilíbrio.

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