Breve Revisão Teórica do Personal Training
Paulo Sena, PhD
Escola Superior de Educação de Fafe, Portugal
paulosena@iesfafe.pt
O exercício físico tem benefícios psicológicos, sociais e físicos, mas nem todas as pessoas se comprometem tempo suficiente para sentirem esses efeitos. A adesão e o abandono do exercício físico, têm sido problemas para os profissionais deste sector durante décadas, mas este fenómeno apenas começou a ser estudado de forma sistemática nos últimos vinte anos (William e Klein, 2004). Nos ginásio, a adesão tem como factor principal de sucesso a relação sócio-funcionário (Sena, 2008).
Incorporar o exercício físico na vida das pessoas pode ser tão importante que, autores como Vina, Gomar, Bello, e Cabrera (2010) referem que o exercício físico é tão efetivo em termos de efeitos psicológicos que deveria ser considerado como uma droga, no entanto, deveria ser prestada mais atenção à dosagem e às variações individuais entre os pacientes.
Sabemos há algum tempo que a adesão ao exercício físico tende a ser mais elevada em pequenos grupos do que em grandes grupos (Massie e Shephard, 1971; Andrew et al., 1981). Uma intervenção individualizada é uma forma importante para o sucesso de alguns processos educativos em geral bem como na atividade física. Aliás, tem sido crescente o interesse de cientistas que realizam trabalhos no sentido de verificar o sucesso do personal training como forma de mudar comportamentos (McClaran, 2003; Maloof, Zabik, e Dawson, 2001; Mazetti, et al., 2000; Wing, Jeffrey, Pronk, e Hellerstedt, 1996).
A Atividade Profissional do Personal Trainer (PT)
Os personal trainers (PTs) segundo Rosado at al. (2014) executam várias funções: a promoção, criação e execução de um programa de exercício físico destinado a melhorar os níveis de condição física, bem-estar bem e a prevenir a doença em adultos saudáveis. E embora não haja dados para o mercado em Portugal, sabe-se que o Bureau of Labour and Statistics (2015) dos Estados Unidos da América, referia existirem 238,170 fitness trainers e aerobic instructors em 2012 nos EUA a auferir um salário médio de $31,720 por ano ($15.25 por hora de trabalho). No mesmo país o inquérito nacional da utilização do PT, referia que o cliente médio de um serviço de personal training em 2000 tinha efetuado 19,5 sessões e os clientes pagavam uma média de $47 (American Sport Data INC., 2007). O rendimento auferido pelos PTs poderá influenciar a sua performance profissional. Koustelios, Kouli e Theodorakis (2003) encontraram uma correlação significativamente positiva entre a segurança no trabalho (ordenado, promoção, o trabalho em si mesmo e a organização como um todo) e a satisfação no trabalho.
Apesar de sabermos que muitas pessoas não se comprometem com a frequência, intensidade e duração de exercício recomendadas para produzir benefícios psicológicos e fisiológicos de um programa de exercício físico (Glaros e Janelle, 2001), os professores devem promover a adesão ao exercício, desenvolvendo programas em torno dos gostos das pessoas (Thompson e Wankel, 1980), evitar prescrever exercício “by the book” para obter ganhos cardiorrespiratórios e de força porque podem promover o abandono (Annesi, 1996). No entanto, a variabilidade excessiva de um programa de exercício não está relacionada com o aborrecimento e não tem impacto na adesão ao exercício (Glaros e Janelle, 2001). Sobre este assunto, Cartoccio (2004) apresenta uma visão curiosa ao referir que: nos ginásios, onde deveríamos encontrar uma maior atenção ao corpo, encontramos uma atenção muito mais concentrada nos planos, receitas, programas que se aplicam ao corpo.
Harvey, Vchhani e Williams (2014) identificaram a importância do trabalho estético do PT, detalhando formas nas quais o PT comercializa o seu próprio capital físico. Os autores afirmam existirem confluências e contradições entre as dimensões afetivas e estéticas do trabalho na indústria do fitness, as quais demonstram que o excessivo capital físico é percebido como negativo para a identidade profissional dos PTs.
George (2008) aborda também questões de relacionamento, referindo que o personal training é um exemplo do crescente número de ocupações que requerem aos trabalhadores o uso de trabalho emocional e conhecimento especializado para fornecer um serviço à medida dos clientes.
Para McGuire (2008) o personal training é um caso particularmente revelador devido às tensões explícitas entre factores culturais (por ex: uma ética orientada para o serviço) e parâmetros económicos (por ex: aspectos empresariais da venda de serviços). O conflito entre o profissionalismo dos PTs e a parte empresarial produz a fronteira entre cultura e economia. O autor conclui que embora vender instrução de exercício seja um negocio para dar lucro, mas porque tem a ver com a saúde e interação pessoal, as racionalidades económicas deverão ser reguladas por uma ética profissional, a qual está considerada isenta de cálculo interesseiro. Isto ajuda a clarificar um diálogo amplo entre a cultura e a economia numa cultura de consumo cultural e de serviço: racionalidades económicas ainda são consideradas suspeitas quando no contexto das interações “pessoais” e serviços de atendimento.
Origem do Personal Training
Embora se aceite que que personal training tenha nascido nos Estados Unidos da América nos anos cinquenta e sessenta na dourada Hollywood quando os atores começaram a solicitar a ajuda de profissionais do exercício físico a que chamaram de PTs (Isidro et al., 2007), pode também considerar-se que Eugene Sandow, a figura da estatueta do concurso culturista Mr. Olympia, embora nascido na Alemanha, foi provavelmente o primeiro PT inglês, abriu os Institutes of Physical Culture em 1885, onde utilizava exercícios com pesos e ginástica (Chapman, 1994). Também estabeleceu um negocio de instrução pelo correio, bem como venda de equipamentos de exercício. Organizou ainda o primeiro concurso de exibição do corpo em 1901, escreveu livros e lançou uma revista intitulada Physical Culture. Mas aquilo que mais se salienta é o facto de ter sido PT de Eduardo VII e George V (monarcas britânicos).
Apesar do trabalho individualizado não ser uma descoberta dos ginásios, foi popularizado por estes. O personal training surgiu em grande parte pela falta de resultados das intervenções de grupo. Stalonas, Johnson, e Christ (1978); Pollock et al. (1998) assinalaram a importância de individualizar os programas de treino.
Formação/Certificação dos PTs
Existe uma grande variedade de certificações de PT com variados graus de validade que falham na hora de assegurar treinadores qualificados e por isso, proteger o consumidor (Melton, Katula e Mustian (2008).
Após entrevistarem de forma semiestruturada 11 fitness trainers que tinham concluído com êxito um curso acreditado pelo Register of Exercise Professionals, Lyon e Cushion (2013) referiam que os trainers aprendem de formas complexas e variadas, algumas das quais são informais e advêm de processos naturais que ocorrem no contexto de trabalho diário. Por isso concluíram existir uma necessidade de integrar mais o sistema de acreditação formal com o conhecimento informal adquirido no trabalho como fitness trainer.
Num estudo realizado com 130 Instrutores de ginástica e musculação de ginásios de S. Paulo, cuja grande maioria tinha menos de trinta anos e só 10% tinha mais de 10 anos de experiência, Antunes (2003), verificou que alguns instrutores graduados em educação física consideravam esse curso pouco importante na sua preparação, considerando a experiência prática mais importante para a capacitação profissional e muitos deles consideravam-se pouco preparados para assumirem determinadas funções ou para atuarem.
No entanto, Graham e Bauer (2006) referem que as certificações são competências mínimas. O conhecimento avançado para além da certificação inicial virá de uma instituição académica, a qual terá educado formalmente o PT nas áreas da nutrição, elaboração de programas, populações especiais e biomecânica.
Malek, Nalbone, Berger, Dale e Coburn (2002), efetuaram uma pesquisa com 115 profissionais do fitness a qual revelou que um grau de bacharelato no campo da ciência do exercício e a posse de certificações do American College of Sports Medicine ou da National Strength and Conditioning Association em oposição a outras certificações, eram fortes preditores do conhecimento de um PT, enquanto que os anos de experiência não estavam relacionados com o conhecimento. Estes resultados sugerem que os PTs deveriam ter um grau de bacharelato em ciências do exercício físico e uma certificação por uma organização cujo os critérios sejam extensivos e amplamente aceites, antes de serem admitidos a desempenhar o seu cargo.
Gavin (1996) obteve a opinião de 228 experientes PTs sobre responsabilidades, conflitos e limites da sua função. Os resultados sugerem que os treinadores podem por vezes assumir responsabilidades por comportamentos que se situam para além dos seus domínios de competência e influencia. Isto inclui atividades como aconselhar clientes acerca de nutrição, estilo de vida e agendas psicológicas.
Os gestores que trabalham na indústria do fitness também recomendam a existência de um licenciamento para os funcionários (Melton, Dail, Katula, e Mustian, 2010).
Relacionamento
Melton, Katula e Mustian (2008) afirmam que alguns clientes e atletas que trabalham com PTs, fitness instructors e treinadores estão inadvertidamente a lesionar-se e estão a experimentar efeitos de saúde adversos devido a informação errada e métodos de treino inadequados. Por isso os programas de formação não graduada dos treinadores, deveriam dedicar tempo adicional ao desenvolvimento das qualidades afetivas dos futuros fitness trainers.
A situação do relacionamento entre utilizadores de ginásio e professores foi também o âmbito de estudo de outros autores que relacionaram a adesão com a personalidade dos professores. Wininger (2002) analisou as relações entre o prazer do exercício e as percepções de 296 mulheres que frequentavam aulas de aeróbica com quatro características do instrutor e cinco características da sala de aula. Características como a condição física do instrutor, a capacidade do instrutor comunicar, as instruções e a ligação com outros participantes na aula, combinadas, contribuíam apenas para 17% da variabilidade do prazer no exercício físico. Annesi (1999) procurou avaliar se os traços de personalidade e os estilos de comportamento de 15 profissionais do exercício estavam associados com a adesão ao exercício físico dos seus clientes. O controlo estava significativamente correlacionado com a adesão dos clientes.
Por vezes os PTs exageram nos incentivos. Springer e Clarkson (2003) reportaram dois casos (mulher de 22 anos e homem de 37 anos) de pessoas educadas e experimentadas em termos de exercício físico que foram encorajadas pelos instrutores a exaustão durante o treino, levando a uma situação de rabdomiólise.
Sekendiz (2014), menciona que as abordagens de “amor rude” e no pain-no gain dos PTs, podem ter riscos sérios de segurança para os clientes e levar a um subsequente litígio. Neste sentido, os gestores de instalações de fitness deverão estar atentos à propaganda de treinos na indústria, monitorizar constantemente e avaliar as formas nas quais os seus PTs estão a fornecer os seus serviços, de forma a minimizar riscos para a segurança dos clientes e possíveis implicações legais.
Motivos Para Usar o PT
Arbinaga e Garcia (2003) ao analisarem um grupo de 55 jovens com idade média abaixo dos 25 anos que treinavam 4 a 5 vezes por semana, verificaram que os homens iam ao ginásio para manter a forma física e as mulheres para controlar o peso.
Petitemberte (2013) verificou em 183 praticantes de personal training (142 mulheres, 41 homens; média de idades 43 anos) que os motivos para utilizar o personal training, estavam mais relacionados com a prevenção de doenças. Situação reforçada por Salcedo (2010) que verificou em 30 indivíduos (entre 23 a 60 anos de idade) utilizadores do serviço de PT em academias de Porto Alegre que a saúde era a dimensão que mais levava os alunos a utilizar o PT.
O trabalho de Guimarães (2012) apresenta como motivos principais de adesão e permanência com PT o treino individualizado, estética, resultados rápidos, compromisso com horário, aconselhamento médico, envelhecimento sadio, variações de treino, avaliações periódicas e motivação.
Teixeira, Konda, Rocha, e Alves (2012) analisaram fatores determinantes para a contratação do serviço de treino personalizado em 17 homens e 16 mulheres (média de idade de 41,9 +/- 11,7 anos) utilizadores do serviço de personal training em 3 academias na cidade de Santos e verificaram que os alunos de personal training primam pela qualidade do serviço, valorizando preferencialmente aspectos como conhecimento técnico do PT, atendimento inicial e postura profissional. Já, com relação ao custo deste serviço, mencionavam que este não parecia ser o fator determinante para a sua contratação.
Em termos de adesão dos alunos ao serviço de personal training, Sombrio (2011) menciona a competência profissional e Almeida e Sartori (2014) referem os valores hora/aula como aspectos determinantes.
Intervenções de Treino com PT
Existe já um conjunto interessante de trabalhos efetuados tendo como objetivo de estudo a ação do PT em termos de resultados no treino. Na Tabela 1 apresenta-se um resumo da literatura académica sobre intervenções de treino com PT. De notar que os grupos investigados vão desde adolescentes a idosos, pessoas treinadas a não treinadas, pacientes em reabilitação e atletas, homens e mulheres, com intervenções de 6 até 32 semanas, onde foram obtidos resultados significativos com a intervenção do PT em termos de perda de peso, melhoria da força, aumento de massa muscular, redução do perímetro da cintura, intensidade de treino superior, reabilitação de pacientes e sobretudo o mais importante: a adesão ao exercício, facto sem o qual nenhum programa de treino poderá permitir ao corpo produzir os benefícios induzidos pelo estímulo do treino.
Tabela 1.
Resumo dos trabalhos mais significativos em publicações com impacto sobre a influencia do PT.
Autores | Amostra | Metodologia | Resultados |
Faulkner, Michaliszyn, Hepworth e Wheeler (2014) | 39 adolescentes sedentários. 20 diabetes tipo I; 9 tipo II e 10 obesos. | 16 semanas de personal training ajustado às preferências pessoais. | A quantidade de atividade física moderada-vigorosa aumentou. Quanto mais tempo de atividade diária, mais melhorias na capacidade cardiorrespiratória. |
Storer, Dolezal, Berenc, Timmins, e Cooper (2014) | 34 homens
30-44 anos |
12 semanas de treino. 3 vezes/semana
G1: treino personalizado G2: treino não supervisionado |
O G1 melhorou força e aumentou massa muscular mais do que o G2. G1 melhorou a potencia e o VO2max enquanto que o G2 não mudou. |
Killen, Barry, Cooper, e Coons (2014) | 20 mulheres. | 2 sessões de exercício idênticas. Cada sessão consistia em 6 exercícios; 1 sessão foi efetuada com um PT e a outra com um DVD.
Foi usado um analisador metabólico portátil para medir o consumo de 02 e registar a frequência cardíaca. |
O gasto energético e frequência cardíaca foram significativamente superiores durante a sessão com PT.
A RPE foi significativamente superior na sessão com PT. 89% dos participantes referiu que preferia a sessão ao vivo com PT do que a sessão com DVD. |
Marchiori, Bertaccini, Manferrari, Ferri e Martorana (2010) | 332 incontinentes que fizeram prostatectomia radical (PR) | G1 efetuou um programa intensivo supervisionado de um programa de treino de pelvic tilt.
G2 foi o grupo de controlo. |
Os pacientes do G1 conseguiram continência mais cedo do que o G2. |
Gentil e Botaro (2010) | 124 jovens homens | 11 semanas de treino.
G1: treinaram sob uma relação elevada treinador-aluno (HS, 1:5). G2: (LS, 1:25). Ambos os grupos efetuaram programas de treino idênticos. |
Os resultados revelaram melhores resultados nos indivíduos com mais supervisão (G1), facto que segundo os autores se deveu provavelmente a maior intensidade no exercício. |
Ratamess, Faigenbaum, Hoffman e Kang (2008) | 46 mulheres 26.6 ± 6.4 anos | n = 27 com PT
n = 19 sem PT Foi-lhes instruído para selecionarem o peso que utilizavam nos seus treinos de forma a permitir efetuar 10 repetições nos exercícios chest press (CP), leg press (LP), seated row (SR), e leg extension (LE). |
Os valores de 1RM para LP, LE, e SR foram maiores no grupo PT do que no grupo sem PT. Os valores RPE foram significativamente maiores no grupo PT para os exercícios CP, LE, SR, mas não no LP. |
Fischer e Bryant (2008)
|
31 estudantes receberam serviços de personal training durante um semestre.
31 estudantes não receberam esses serviços. |
Os processos cognitivos e comportamentais de mudança, equilíbrio de decisão e agendamento de autoeficácia baixaram significativamente no grupo sem PT. Enquanto no grupo com PT não se alteraram. | |
Autores | Amostra | Metodologia | Resultados |
Byrne et al. (2006) | 74 homens e mulheres com excesso de peso ou obesos.
38 ± 5 anos. |
32 semanas de treino
G1: treino com programa personalizado mediante pulsómetro (controlo do gasto calórico diário) + conselhos gerais; G2: conselhos gerais standard. |
G1 perdeu mais peso, mais gordura e mais perímetro de cintura do que G2. |
Ratamess, et al. (2006) | 46 mulheres treinadas.
27 ± 7 anos. |
3 meses de treino de força
G1: treino personalizado G2: treino não supervisionado. |
As mulheres do G1 auto-selecionaram um peso absoluto e relativo (a 1RM) maior para poder completar 10 repetições do que G2.
As mulheres do G1 tinham mais força e eram menos propensas a acreditar no falso mito de que o treino de força poderia gerar-lhes “corpos de homens”. |
Coutts, Murphy, e Dascombe (2004) | 42 jovens jogadores de rugby.
17 ± 1 ano. |
12 semanas de treino de força G1: treino personalizado;
G2: treino não supervisionado |
G1 melhorou força nos testes de 3RM nos membros inferiores e superiores. Ambos grupos melhoraram potencia e velocidade. |
Wise, Posner e Walker (2004) | 32 mulheres que não faziam supino há 18 meses, foram distribuídas em 2 grupos e foram expostas a 2 fontes de informação de eficácia. | Ambos os grupos efetuaram 10 repetições numa máquina de supino vertical e completaram a escala da eficácia no supino.
Depois, cada grupo recebeu 1 de 2 mensagens verbais possíveis. Ambas mensagens incluíam as qualificações do emissor no treino de força. Para além disso uma mensagem tinha feedback específico de performance, enquanto o outro continha informação mais generalista. Depois a eficácia foi medida de novo. |
Os resultados indicaram que ambas as mensagens foram eficazes. |
McClaran (2002) | 129 indivíduos.
20-65 anos. |
10 semanas de treino personalizado. | 74 indivíduos subiram 1 a 2 estadios do modelo transteórico, 27 indivíduos mantiveram-se (porque não tinham mais estadio para cima) e apenas 1 indivíduo baixou. |
Autores | Amostra | Metodologia | Resultados |
Maloof, Zabik, e Dawson (2001) | 17 indivíduos.
18-65 anos. |
6 semanas de treino
G1: treino personalizado G2: treino em grupo com pouca supervisão. |
G1 melhorou mais a força do que G2. |
Mazetti et al. (2000) | 20 homens.
25 ± 1 ano. |
12 semanas de treino de força.
G1: treino personalizado G2: treino não supervisionado. |
G1 aumentou mais a carga utilizada para treinar, melhorou mais a força e a massa muscular do que G2. |
Jeffery, Wing, Thorson, e Burton (1998) | 193 homens e mulheres obesas. | G1: standard behavior therapy (SBT).
G2: SBT com SW (caminhadas supervisionadas 3x por semana). G3: SBT + SW + PT (com PTs, que caminhavam com os participantes, faziam lembretes por telefone e faziam SW). G4: SBT + SW + I (com incentivos monetários por completarem as SW). G5: SBT + SW + PT + I. |
O PT melhora a frequência nas caminhadas. Quando combinado com incentivos financeiros produz melhor adesão ainda ao exercício físico. |
Wing, Jeffery, Pronk, e Hellerstedt (1996) | 35 indivíduos.
40 ± 8 anos. |
24 semanas de treino (andar 3x/s) + dieta (1000-1200kcal/dia).
G1: com PT G2: sozinhos |
A adesão ao programa foi a mesma em ambos os grupos e ambos perderam gordura de igual forma.
É possível que ao fazer-se uma dieta muito rigorosa, o efeito do treino se veja diluído. |
Conclusões
O objetivo deste trabalho foi dar a conhecer a literatura académica relacionada com a atividade de personal training e fornecer uma estrutura de análise para melhor compreensão do tema, servindo eventualmente de ponto de partida para futuras investigações sobre personal training.
Assim, conclui-se que treinando com um PT, podem conseguir-se os seguintes resultados do ponto de vista fisiológico:
- a) Perde-se mais peso, gordura e perímetro na cintura (Byrne et al., 2006; Mina et al., 2012);
- b) Ganha-se mais força (Storer et al., 2014; Mina et al., 2012; Ratamess et al., 2008; Ratamess et al., 2006; Coutts et al., 2004; Maloof et al., 2001; Mazetti et al., 2000);
- c) Ganha-se mais massa muscular (Storer et al., 2014; Mazetti, et al., 2000).
- d) Ajusta-se melhor a carga do treino, ocorre uma autosseleção de intensidades superiores de treino e valores superiores de Escala de Percepção de Esforço durante o exercício físico (Ratamess et al., 2008; Ratamess et al., 2006).
- e) Melhora-se potencia e capacidade cardiorrespiratória (Storer et al., 2014).
- f) Mulheres universitárias com condição física baixa a moderada, preferem exercitar-se com PT e demonstram maior gasto calórico e frequência cardíaca nessas sessões. Killen, Barry, Cooper, e Coons (2014).
Os melhores resultados obtidos no treino com supervisão, devem-se provavelmente à maior intensidade no exercício (Gentil e Botaro, 2010).
Em termos de adesão, conclui-se que um treino personalizado ajustado às preferências pessoais e atuando sobre o entorno familiar, aumenta a adesão ao exercício (Faulkner at al., 2014).
Treinar com um PT aumenta a adesão ao exercício físico (McClaran, 2002).
O PT contribui para manter processos cognitivos e comportamentais de mudança, equilíbrio de decisão e agendamento de autoeficácia (Fischer, e Bryant, 2008).
O PT melhora a frequência nas caminhadas e quando combinado com incentivos financeiros produz melhor adesão ainda ao exercício físico (Jeffery et al., 1998).
Pessoas idosas com atraso mental profundo podem beneficiar de um PT para manterem a adesão ao exercício físico (Cooper e Bowder (1997).
Apenas encontramos um trabalho que concluiu que o PT não gera mais adesão ao exercício (Wing et al., 1996).
Os treinadores de força que trabalhem em situação um-para-um com mulheres jovens, devem: (a) assegurarem-se que os alunos têm conhecimento das suas qualificações profissionais, (b) fornecer feedback específico e (c) declarar as suas crenças nas capacidades dos seus alunos executarem os exercícios. Wise, Posner e Walker (2004).
Devido ao reduzido número de indivíduos estudados, estes resultados requerem uma interpretação cuidadosa e confirmação em futuros trabalhos com diferentes amostras e metodologias.
Ficamos a conhecer um pouco melhor o que que faz o PT, qual a sua origem e a problemática da formação/certificação dos profissionais do sector. Começamos a ter evidências que a intervenção de um PT tem impacto nos resultados obtidos através do exercício físico bem como na adesão aos respetivos programas de movimento corporal. No fundo o PT vende atos humanos, serviços que pretendem resolver os problemas dos indivíduos que na generalidade parecem centrar-se na melhoria da condição física e saúde.
Assim, mediante a literatura estudada e o conhecimento empírico, acreditamos que a investigação deveria avançar com base nestas 3 estruturas conceptuais e até partir daí para a criação de um modelo de análise:
- Parece-nos que a adesão está relacionada com os resultados e que estes estão de alguma forma dependentes da intensidade dos treinos.
- Por outro lado, nota-se que as percepções e o próprio exercício influenciam o estado emocional, consequentes comportamentos e resultados obtidos pelos indivíduos.
- Se os serviços do PT são contratados em última análise para colmatar a falta de disciplina, de um método eficaz e de um processo de controlo por parte dos indivíduos, convém perceber de que forma a escolha que o PT faz dos exercícios e a comunicação proxémica nos treinos podem levar a melhores resultados.
Face ao exposto, parece evidente que o Personal training é uma vasta área de estudo para a psicologia do desporto.
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