
A TrapBar está na moda! Não foi criada agora, não senhor. Nos anos 80 quando começamos a frequentar ginásios, esta já fazia parte dos equipamentos de alguns espaços. Originalmente atribui-se a sua criação a um powerlifter chamado Al Gerard para trabalhar trapézios (por isso o nome “trap”) realizando movimentos de encolhimentos de ombros, tem sido inadequadamente utilizada para realizar saltos, puxadas, peso morto e inclusive presses acima da cabeça. Acrescentar por curiosidade que os halteres já existem há mais de mil anos, a barra olímpica será a mais recente (perto de cumprir 100 anos) mas as barras de carregar discos estão no mercado há mais de 100 anos.
Fiz muitas asneiras na minha prática desportiva em termos de volume de treino e habilidades motoras de criança e adolescente que passa o tempo na rua e no campo. Isso levou-me a uma cirurgia à coluna vertebral. Por isso, a partir dos 17 anos de idade, desatei numa busca tremenda de tudo o que fosse bom para proteger a coluna vertebral e me permitisse voltar ao desporto de competição e a uma licenciatura em educação física. Fiz peso morto com halteres, com barra, com trapbar, com elásticos, máquinas de zona lombar da Nautilus e MEd-X, hiperextensões, pranchas, Pilates… No final fiquei-me por aquilo que me deu mais estabilidade, menos dores e mais segurança: agachamento e peso morto. Senti grandes diferenças quando no início dos anos 90 tive de me afastar desses movimentos, “conquistando” pubalgia, dores nas costas e falta de estabilidade para defender no andebol e um decréscimo nos níveis de condição física em geral.
Este breve comentário sobre a trapbar tem por base a experiência própria, milhares de treinos com outras pessoas e uma reflexão das opiniões de treinadores e atletas experientes no levantamento de cargas pesadas. Vejamos alguns dos “desafios” que esta barra nos coloca, usando o movimento mais comum: o peso morto.
A posição das pegas não é ajustável (já andam a tentar soluções, eu sei), isso faz com que o afastamento dos braços em relação ao tronco seja diferente de pessoa para pessoa, obrigando a vencer diferentes momentos de força, que nos casos das pessoas de membros mais curtos e as pessoas mais baixas, dificulta mais a estabilização da barra pela dificuldade de criar tensão na musculatura do tronco, do que pela exigência que supostamente os movimentos mais comuns deveriam colocar ao trem inferior. em manter o tronco devidamente tenso com a coluna em extensão no peso morto e em qualquer tipo de salto. Por razões mecânicas, quando não conseguimos ter os braços verticais, não conseguimos levantar tanto peso. Na trapbar não é possível que a maioria das pessoas coloquem os braços verticais.
Como a trapbar permite uma posição mais próxima da vertical por parte da coluna vertebral, limita a solicitação de isquiotibiais, glúteos e zona lombar. Não é para isso que queremos o peso morto (trabalhar esses músculos tão lesados no futebol)?
Como a trapbar promove um movimento pendular durante praticamente todo o movimento de peso morto, torna difícil o arranque na posição inicial onde a barra deveria estar sobre o meio do pé e quando terminamos o movimento, a barra oscila para trás e para diante, fazendo com que a carga se distribua por zonas da coluna, nomeadamente das vértebras que não estão preparadas para receber. Enquanto que uma barra tradicional bloqueia o movimento na parte superior do mesmo, ou seja, bloqueia o movimento no plano sagital, no caso da trapbar, esta fica a oscilar e promove na maioria dos casos uma grande dificuldade em elevar o peito e facilmente provoca um exagero no transfer da carga para os calcanhares. Cinestesicamente, perdemos a noção do percurso da barra e da posição ideal da mesma se queremos respeitar as Física e a Anatomia. Mas já alguém experimentou peso morto com ambas as barras? Seria importante os treinadores experimentarem o movimento com o seu peso corporal, para melhor compreenderem o que ocorre. Uma das sensações mais estranhas para além da ocorrida na tentativa de bloquear o movimento em cima, será a tração lateral dos ombros. Já fizeram agachamento/peso morto com halteres? Qual é a dificuldade? Nas coxas, glúteos e zona lombar? Ou é na posição dos braços e na segurança dos halteres?
Quando a trapbar é utilizada em movimentos de forma explosiva, os problemas anteriores são aumentados, até porque o padrão de movimento é sempre muito variável, não é uniforme, dificultando técnica, aumentando o risco de lesão por uma distribuição da carga que dificulta o respeito pela anatomia do corpo humano e pelas leis da física. Não existe um padrão de movimento que se possa reproduzir de forma idêntica em todas as repetições como noutros movimentos com barra tradicional. Existe um risco aumentado de queda por parte do executante.
Se queremos agachar com carga, já temos formas mais eficazes e seguras de colocar carga sobre o corpo como o agachamento com barra sobre as costas, no qual temos maior amplitude de movimento, conseguimos usar mais carga, aguentamos mais repetições porque a pega não falha como falha no agachamento com trapbar, antes dos músculos alvo das coxas e das ancas.
A pouca versatilidade da trapbar também faz dela um investimento de valor duvidoso, sobretudo quando na maioria dos clubes e ginásios nos colocam sempre problemas de orçamento.
De resto, podemos usar a trapbar para treinar o zigomático e o orbicular dos lábios, mas cuidado para não prejudicar as pessoas apenas com o intuito de inventar algo supostamente novo. Recordo que nos últimos 40 anos não inventaram nem trapbar, nem elásticos nem eletroestimulação.
Se o objetivo do treino de força é aumentar o potencial do indivíduo e reduzir a probabilidade de lesão, a utilização da trapbar parece nitidamente o caminho no sentido oposto. Embora não recomende a utilização da trapbar, recomendo este livro.
Quando lutamos contra a falta de tempo e enorme exigência de resultados, queremos o mais eficaz e mais seguro. Numa fase inicial de treino é tão simples quanto usar o peso corporal. Numa fase mais avançada podemos usar outras ferramentas que deram provas do seu valor no terreno. Por isso cuidado com algumas “novidades”.
No futebol, a maioria dos atletas não está habituado a utilizar determinadas ferramentas e por vezes até têm dificuldades em executar corretamente agachamentos sem carga, logo, é fundamental começar por dar uma boa base e depois construir com elementos sólidos. Não queremos mais lesões, queremos atletas mais fortes, mais resistentes e mais flexíveis.
The trapbar could be a trap 🙂
Deverá estar ligado para publicar um comentário.