Um defesa, primeiro tem de ser defesa.
Humberto Coelho
Dificilmente seremos bons guarda-redes, excelentes defesas centrais, bons médios e grandes goleadores ao mesmo tempo. Curiosamente, no futebol atual, solicita-se cada vez menos especialização ao atleta, embora se fale muito no jogo a jogo. Os jogadores e comentadores passam o tempo a reclamar que jogam fora da sua posição, que o atleta A ou B é médio mas gosta mais de jogar para dentro ou para fora, que é um 6 e não um 8… Mais interessante é o facto de ter ocorrido uma enorme especialização ao nível de treinadores, estando a modalidade a caminhar para em grandes clubes ter um número de técnicos similar ao número de jogadores. Já repararam que os clubes se deslocam com duas grandes viaturas? 🙂
Quem procura fazer tudo ao mesmo tempo, raramente faz algo de muito produtivo, não completa tarefas e projetos com a mesma celeridade de quem se vai focando numa tarefa de cada vez, concluindo pequenas metas. Fala-se muito de foco e atenção, mas existe uma promoção social da dispersão e do fomento do multi-tarefa. Recordemos que temos uma quantidade de energia limitada. Já experimentaram ter dois pensamentos em simultâneo? Escutem duas músicas ao mesmo tempo em cada ouvido 🙂
Se gastarmos muita energia nos processos defensivos, não sobra nos ofensivos. É normal. Se um avançado ou um médio que passa muito tempo de costas para a baliza, raramente é um goleador. Se um avançado despende demasiada energia em tarefas defensivas, quando chega o momento da verdade, falta um passo, falta tranquilidade para finalizar, chega sempre tarde. É normal!
Nos últimos anos, temos verificado muitos erros de passe dos guarda-redes na primeira fase de construção. Serão eles capazes de “sair a jogar”? Certamente haverá uma minoria com grande competência, mas não é isso que a maioria dos mais competentes goleiros na sua função demonstram no jogo de pés. Porque estão a sofrer tantos golos motivados por erros de jogo de pés? Não será por falta de treinadores dedicados nos clubes. Se existe uma posição onde abundam técnicos para ajudar é na específica de guarda-redes.
Mesmo em modalidades como o andebol, sofremos muito com o desgaste energético elevado nos processos defensivos, transições e nos processos ofensivos. A gestão é feita com substituições frequentes. O mesmo ocorre no basquetebol. Na comparação com o futebol, a intensidade e os espaços são diferentes, logo, se o futebol quiser evoluir no sentido de todos darem 100% do ponto de vista energético a atacar e defender, então as substituições terão de mudar. Mas isso mudaria radicalmente a modalidade. Permitiria por exemplo, um atleta de 50 anos de idade, entrar para marcar livres 🙂 Para já, as regras são aquelas que conhecemos. Temos de jogar com elas e isso significa gerir energias físicas e mentais. Querem más decisões? Criem fadiga, privação de sono e verão decisões inadequadas em situações que parecem simples do estilo 2×1.