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Treinos honestos para pessoas reais!

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A inteligência artificial vai tirar o emprego aos personal trainers?

Nos últimos tempos temos visto um crescente aumento de pessoas que nos comentam ter testado o CHATGPT e o BARD para aconselhamento nutricional e de treino. O facto de a Microsoft ter adicionado ferramentas ao BING como o CoPilot e de certa forma embebido o CHATGPT numa versão mais avançada, parece ter aguçado o apetite das pessoas. De facto, torna-se mais fácil efetuar uma pergunta específica e obter uma resposta num chat, do que pesquisar largos minutos até obter a informação pretendida em qualquer motor de busca. O CHATGPT responde procurando dentro de um grande conjunto de dados, usando um “Large Language Model” para produzir respostas que imitam a resposta humana. Há quem diga que este tipo de chat é um corretor automático com esteróides 🙂

Dentro de várias aplicações, smartwatches e afins, existem algoritmos e algum tipo de inteligência artificial que, obtendo dados através de sensores, de inputs de seres humanos ou da pesquisa de informação, consegue melhor do que qualquer ser humano, aprender com esses dados, encontrar padrões, dar respostas com uma base estatística mais sólida.

Mas serão os dados obtidos fiáveis? Durante todos estes anos a lidar com sensores de frequência cardíaca, sabemos que esta se altera por razões fisiológicas, mas é sempre influenciada por emoções, as quais são muito mais difíceis de quantificar, detectar ou classificar. Também se verifica que os sensores dos equipamentos profissionais de ginásio existentes em passadeiras, bicicletas, elípticas e afins, variam imenso na sua fiabilidade quando comparados com sensores de referência como o Polar H10 ou a monitorização Holter. Os smartwatches estão longe de fornecer leituras fiáveis em atividade física intensa, embora estejam cada vez melhor ao nível do controlo de distância e até do sono. Por outro lado, a contabilização de repetições, distâncias, cadências e potência, está mais consolidada.

A informação que a máquina pode pesquisar nas suas bases de dados ou na internet, poderá não ser a correcta. Mas também é possível ao questionar um chat alimentado” com IA, solicitar que baseie a sua resposta em determinados textos fornecidos de forma específica.

Assumindo que os dados são fiáveis (para lá caminhamos rapidamente), a IA permitirá desenvolver modelos, aprender e efetuar tarefas com esses dados. Já o fazem diversas marcas que procuram desenvolver treinadores virtuais, tornar o fitness mais acessível com aulas online, controlar exercício através de câmaras de vídeo, melhorar a motivação e adesão dos sócios de ginásios, criar programas de treino personalizados, dar feedback em tempo real, gerir o progresso e controlo de treino e até intervir ao nível da saúde mental. Marcas como Teachable, ClassPass, Curable, Headspace, Supernatural, FitXR, BetterUp, AAptiv, MyoPro, MyFitnessPal, GymPass, Virtuagym, Freeletics, Tempo, Peloton, Whoop, FitBit, Garmin e várias outras, estão a desenvolver muitas ferramentas de auxílio ao personal trainer ou simplesmente com o intuito de tornarem a pessoa comum autónoma. Por trás destas tecnologias estão pessoas, incluindo clientes de ginásio insatisfeitos e treinadores em busca de soluções. A pandemia foi um motor de desenvolvimento de muitas destas ideias.

Há pelo menos 20 anos que venho alertando para o facto dos professores se terem desvalorizado dentro dos ginásios quando se limitam a prescrever exercício, a contar repetições, a fomentar intimidades, a exibir os seus músculos ou simplesmente a executar tarefas de forma mecânica, muito padronizada que facilita a sua substituição por pessoas indiferenciadas, por computadores, quiosques de programação de exercício, programas pré-definidos nas máquinas e outras tecnologias. Esse foi o caminho mais rápido, a auto-estrada para a desvalorização que, associada a um maior número de pessoas interessadas em trabalhar em ginásios, originou que o valor hora pago a um supervisor (instrutor) de sala de musculação passasse dos 15eur/h para 2,5eur/h.

A consequência mais radical é a substituição do professor por máquinas, gadgets, realidade virtual e câmaras de filmar? Talvez não seja assim tão breve, embora saibamos que há ginásios abertos 24h onde em muitas dessas horas não existe supervisão, ginásios com quiosques de programação de exercício, máquinas que controlam repetições e velocidade de execução onde os treinos ficam todos registados.

Embora as máquinas sejam poderosas na recolha, tratamento de informação, identificação de padrões e feedback em função disso, ainda lhes falta muito desenvolvimento no lado humano e na conjugação da biologia da psicologia e sociologia de qualquer ser humano.

Os dados do treinador estarão sempre deturpados pela sua percepção e pelos seus filtros culturais e de personalidade, mas… O treinador experiente conseguirá:

  • profundidade emocional;
  • interação física;
  • interferir nas reações do cliente pela sua colocação no espaço, sua comunicação verbal e não verbal no imediato;
  • diferenciação nas emoções;
  • gerar e perceber estados diferentes para originar outros comportamentos;
  • melhor controlo espacial;
  • facilmente estabelecer uma relação;
  • usar as reações hormonais que se geram quando dois seres humanos estão próximos;
  • melhor comunicação de proximidade (proxemics);
  • relacionar dados (embora obtidos por percepção dos 5 sentidos) biológicos, psicológicos e sociais no momento;
  • gerar mais compromisso do que a máquina. Temos a impressão que é mais fácil apagar uma aplicação, ignorar um alarme de telemóvel do que ignorar um compromisso com um treinador ou ignorar as ações do mesmo se este nos for tirar da cama à força 🙂

Recordamos que a psicologia em termos de estudo científico, tem na sua origem, entre outros, a percepção de pessoas como Norman Triplett que há mais de 100 anos atrás verificou que os ciclistas tinham melhor desempenho quando competiam ou treinavam com outros ciclistas. Desenvolveram-se assim, conceitos de base como a psicologia social ou facilitação social. Ainda hoje a psicologia reconhece o apoio social como fundamental na adesão ao exercício físico em ginásios. Talvez por isso, marcas como a Zwift tenham usado alguns destes princípios para desenvolver as suas ferramentas motivacionais.

Um sistema híbrido já a funcionar (professor/ferramentas com inteligência artificial), poderá ser amplamente potenciado se os professores usarem as armas que os fazem humanos, focando-se no momento presente, na comunicação, no domínio da psicologia, das relações interpessoais, da didáctica e pedagogia necessárias para mudar comportamentos no momento de treino e persuadir as pessoas a mudarem os seus comportamentos relacionados com aquilo que fazem fora do ginásio, nomeadamente no sono, alimentação, pensamentos recorrentes e relações interpessoais.

Mas uma coisa é certa: a revolução da IA vai ter um grande impacto nas nossas vidas!

Sobre

Motor-Humano é uma newsletter criada em 1998 para ajudar pessoas do mundo real com problemas de stress, sono, vida ocupada e pouco tempo para treinar. Usamos treinos e exercícios que resultam há mais de 100 anos com pessoas de genéticas variadas e estilos de vida muito diferentes. Se estás farto de ser enganado pela indústria do fitness, pelas dietas rápidas, treinos milagrosos, suplementos vindos da selva ou elásticos coloridos e outras geringonças… Então aqui vais encontrar soluções que resultam para os teus problemas. SUBSCREVE!