A moda atual dos ginásios é vender sessões de personal training.
És personal trainer?
Gostavas que te fizessem o mesmo?
Imagina que não te conhecem de lado algum. Mal sabem o teu nome e querem vender-te um serviço que nunca viste “executar”. Aparece um jovem que ainda vive em casa dos pais, que deu dois treinos na vida e oferece um serviço de 40€, tal qual um “cozinheiro” de McDonalds a vender uma refeição de uma estrela Michelin que supostamente sabe preparar.
Não importa o problema do cliente ou a condição social, a solução é treino personalizado.
Gostavas que te insultassem de obeso mórbido, fraco e medíocre? Sim, são esses os possíveis rótulos que temos ao finalizar os testes de avaliação, os quais, dada a sua inutilidade, são agora usados para vender através do mecanismo da DÔR-PRAZER. Passo a explicar: colocas imagens, sons e sensações de doença e morte na cabeça da pessoa, usando uma forma de comunicação tenebrosa. Depois, mudas a tua expressão, o tom de voz e as palavras e ofereces a suposta solução. Sim, aquela solução dos elásticos e das bolinhas que nos últimos 5 anos fez abrir muitos ginásios mas diminuiu o número de pessoas que frequentam esses ginásios. No final, se a pessoa não comprar, ficas amuado e registas na tua mente nunca mais lhe dares atenção na sala de musculação. Para sempre, não. Quando a pessoa tem uma interessante infraestrutura, sexualmente apelativa, tu fazes um esforço.
Devo lembrar que vives em Portugal. É um país com o melhor clima do mundo, seguro, sem poluição, paisagens contrastantes e excelente gastronomia. Mas é também o país de 10 milhões de habitantes com mais de 4 milhões acima dos 50 anos, população envelhecida, com baixo poder de compra, a frequentarem ginásios onde as taxas de fidelização estão abaixo de 50%, onde as pessoas vão em media menos de 1,5 vezes por semana, onde a maioria não supera os 6 meses de permanência em locais que investem muito em equipamentos e instalações mas pouco ou nada nos seus funcionários (quando nós sabemos que o fator mais importante na fidelização de sócios é a relação sócio-funcionário). É como teres um bom carro de corrida e um piloto fraco. Ginásios que mudam nomes, que tentam todas as técnicas para enganar pessoas, vender geringonças e suplementos, mas quase nunca procuram soluções para problemas. Ainda bem que há algumas exceções que sobrevivem há décadas.
Façamos uma reflexão, respondendo a estas questões:
Quem contratavas como teu personal trainer?
Com o dinheiro que ganhas, contratavas um coach? Quem?
Consomes serviços que custam mais de 40€/h? Quais? Achas que estás ao mesmo nível?
Procuras qualidade ou quantidade no teu próprio treino?
Que barreiras de vida tiveste de ultrapassar?
Tens filhos? Tens um trabalho stressante e mais de 40 anos?
Consegues ver as coisas pelo prisma do cliente?
Achas que vais enganar as pessoas durante muito tempo? E depois? Como vais dar a cara nas nossas pequenas localidades onde toda a gente se conhece?
Queres atrair atenção positiva ou negativa? Que rótulos gostarias que te colocassem?
Se dás por ti a necessitar de fazer muita publicidade, de dizer: – Eu sou bom! Que tal fazeres ao contrário e pensares no que podes fazer para que os outros digam: – Ele é bom! (chamamos a isso relações públicas).
“Fazer” sala de musculação é dar tudo aquilo que tens em termos de saber-fazer e saber-ensinar com marketing, psicologia, biologia, sociologia, física, anatomia e princípios de treino ao serviço das pessoas que tratamos por clientes. Sim, essas PESSOAS, esses seres bio-psico-sociais a quem deveríamos ajudar a resolver problemas em vez de criar mais problemas.
O objetivo é criar boas impressões, deixar as pessoas mais felizes depois de terem estado connosco. Damos 1 a 5 minutos de atenção em sala, deixamos a semente, regamos e nutrimos, para que um dia dê fruto. Sim, esse fruto que tanto queres, necessita o carinho que dás a uma planta. A consequência será um cliente que vai vender por ti ao recomendar-te, ao falar de ti de forma positiva ou quando compra mais tempo da tua atenção (por ex: uma hora de serviço de PT), porque adorou as tuas intervenções de segundos, o rapport, a relação que criaste com esse ser humano.
De que lado estás?