Todos os dias os treinadores reclamam da falta de compromisso dos jovens. A promessa, a decisão em fazer algo. Não aparecem para treinar, têm baixa tolerância ao esforço. Tudo serve de desculpa para não fazer. Dizerem que não conseguem antes de experimentarem. – Não faço porque não sei. – Não gosto mas nunca experimentei. – Hoje não posso porque já combinei umas coisas…
Os exemplos são diversos e com isso minam o compromisso com o objetivo que eles próprios estabeleceram.
Vamos por isso juntar a nossa experiência à ciência e deixar umas pautas para ajudar treinadores e atletas a trabalharem uma habilidade psicológica fundamental: O COMPROMISSO.
Rapport
Existem grandes diferenças de linguagem, cultura, crenças que dificultam a comunicação. Ajuda, encontrar pontos comuns e fazer um esforço de compreensão e aproximação ao mundo do atleta, tal qual o treinador que fala inglês para um atleta português e se esforça por aprender a sua língua.
Educação
Explicar os processos em linguagem simples. Apresentar alguns porquês, algumas justificações, vão até ajudar quando o atleta estiver a consultar redes sociais. Ele passará a duvidar um pouco mais de charlatões. Podemos indicar outras fontes de informação, outros “influencers”. Podemos produzir folhetos informativos, ser dinamizadores de canais e redes sociais. Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és.
Expectativas
Gerir expectativas e fazer a ponte entre o sonho e a realidade. Reformular esse enquadramento e o grau de dificuldade. Muitas expectativas irrealistas são formuladas por outros indivíduos, por modelos que criam ilusão de facilidade. Somos todos bombardeados com vendas de metodologias, equipamentos e suplementos que tornam tudo demasiado fácil. Sabemos que é possível, pode ser simples, mas a disciplina raramente é fácil para um jovem cheio de solicitações, hiperestimulação e dificuldade em estabelecer prioridades, num mundo que diz que tens de ter cinco em todas as disciplinas na escola, no mundo do crossfit, do MMA, dos 200 canais de TV e 200 aplicações de telemóvel. Muita dispersão e pouco foco.
Exposição ao Processo
Só fazendo, se pode sentir o desconforto, a dificuldade e perceber melhor o quanto vai ser preciso para atingir o objetivo. Assim podemos também equilibrar as expectativas, a satisfação e gerar a dose certa de confiança. O que parece fácil por vezes é difícil e o que parece difícil, quando se começa a fazer, não é assim tão complicado. No momento em que se começa a fazer é que se avalia a TOLERÂNCIA AO ESFORÇO. Assim podemos ajustar cargas, nível de exigência e as próprias expectativas.
Objetivos
Os objetivos a curto-prazo e os objetivos de processo, focam a atenção mais próxima do momento presente sem deixarem de ser desafiantes. Saber o que querem especificamente, ter uma data é importante, mas aquilo que vai manter as pessoas no processo (no como fazer para alcançar) são as RAZÕES fortes para querer o objetivo. São as justificações, são os porquês, as estórias que as pessoas contam a elas próprias que geram aquele ímpeto para sair da zona de conforto.
Apoio Social
Temos visto que o apoio social de familiares, amigos e treinadores é a parte mais importante na adesão ao exercício físico a um processo de treino ou de tratamento. Criar essa rede, alterar a rede de forma às influencias serem orientadas no sentido de manter o processo para o objetivo.
Fomentar Autonomia
Os jovens são pouco treinados para serem autónomos, costumam ser muito protegidos e estarem envolvidos em processos escolares e sociais de baixa exigência. Logo, temos de ser tolerantes e ir treinando pequenas tarefas para que as realizem sozinhos. Temos de ser progressivos e pacientes. Não podemos comparar com a nossa geração ou com o facto de termos sidos atletas de sucesso antes de sermos treinadores. Lidamos habitualmente com uma cultura diferente.
Gestão do Tempo
Tudo se treina. Ensinar a gerir melhor o tempo e melhorar a organização pessoal, podem ser processos que geram confiança, a sensação de ser capaz de… Ninguém nasce ensinado. Mas quando estabelecemos um objetivo, uma prioridade, temos de deixar de fazer outras coisas ou relegar algumas para segundo plano. É impossível fazer tudo. Multi-tasking não funciona. As coisas mais importantes, não devem ficar à mercê das coisas menos importantes. Dizer: – Não. Essa vai ser a chave de muitos processos para o sucesso. O Princípio de Pareto pode ser muito útil aqui.
Fomentar o Gosto Pelo Desporto
O hábito é mais importante do que o objetivo. Para alimentar o processo, podemos fomentar o gosto pela modalidade praticada. Mostrar vídeos, indicar autores, exemplos de atletas, explicar os processos e incentivar a procura de informação, vai gerar um maior envolvimento, a conhecer fontes e indivíduos que inspiram a continuar. Liderar pelo exemplo, criar um ambiente de treino positivo e dar algumas opções de atividades a realizar, são outras formas de se adaptar mais às necessidades individuais.
Coaching
Podemos usar uma estratégia de coaching, identificando áreas em que o atleta teve sucesso, áreas em que o atleta passou processos similares ao processo que está a decorrer connosco. Depois ajudar a identificar a estrutura que ele usou para superar dificuldades, identificar crenças negativas, recursos humanos e materiais para ter sucesso. Este processo de descoberta, dará mais compromisso para com o próprio processo de treino, porque são as soluções próprias em vez de impostas.
Ligar o Treino a…
Ligar o processo de treino, as tarefas necessárias para ter sucesso à vida, ao dia-a-dia, ligar o treino a outras pessoas e bons exemplos, criar ligações fortes com o local de treino e os outros membros da equipa. Ou seja, quanto mais associações positivas se encontrem no processo, maior a motivação para continuar.
Vivemos num tempo onde todos sabem tudo, mas poucos fazem algo. É preciso contrariar isso.
Se gostaste, subscreve para teres mais estratégias práticas, sobre este e outros assuntos.
Bons treinos!